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24.9.11

Estéreo

Garota de Goa píton
vem amar o som
da roupa caindo na praia
da eletricidade no calção
quando você sobe da onda
e caminha pela areia
Um trovão que desemboca
em ais na boca dos nadantes
Os que nada têm
e esperam quietos o elástico
da tua solidão
É que você diz mesmo não
e não dá prá acreditar
Pô tou malhado como Camões
de dois olhos num só
Poeta para todos
Bobo para você
E do encontro no duche na cidade
apenas guardo o tampão
o velho novelo de espuma
do teu ipod de estimação

Rio

Esta idade
Esta cidade
Esta líbido
que queria
pela metade

Leblón

Gosto de inglês na livraria
cheio de saco e cão vivo dentro
compra um compra muitos livros
depende do vício
depende da aragem
Da aragem que passa
entre os coqueiros da praia
sobre o óleo na pele
sem deixar marca
Também ele procura os trópicos
e uma língua que não conhece
Uma língua que sonoramente
nos limpe e eleve
como um lenço suado
dançando na vitrine
lembrando a praia

2.8.11

Causa Familiar

Ainda lembro Laio
um tipo alto e respeitado
médico do interior
de Brasília
Seu filho lhe deu
só problemas
Mas nos anos sessenta
Édipo abria consultório
em São Paulo
Finalmente terminara
o curso em oftalmologia

22.7.11

Renascimento

O dente
O marmóreo dente
ao lado da catedral
Ele deu sombra
a bichos no verão
a beijos no inverno.
Separam-lhe num domingo
o coração.
Foram generosos
nas mãos, no cabelo e nos pés
e fizeram dessa taça de vida
um David para todos.
O imediato segundo após a vitória
quando a bala encontra
ainda vida no corpo.

12.7.11

Cleube e Damião

Pode ser que um dia crache sua memória
O verão a tomar banho na sua pele
Se destrua a cama onde fodeu e dormiu
Mesmo por cima do açougue
Com seus cadáveres
Pode ser que a palmeira
Sacuda finalmente as moscas
Enquanto dorme
E você regresse dessa foto que tem anos
E me abrace

10.7.11

LÍRIOS

O anjo do interior
tem o mar pela cintura
e pode levar a tarde
com a água pelo umbigo.
Eu espero.
Penso que não terá boca
para o beijo que me deve.
Ao espelho faço a barba
e corto a pele só para sentir
o seu corpo.
Escrevi num papel
que dobrei na sua carteira
"um dia irei para a Trácia".
Espero que seus dedos leiam
antes de passarem pelos lírios.

21.6.11

Rua Vinicius

No ano em que o muro de Berlim
deu origem a não sei quantos
porta-chaves.
Eu ganhei uma bateria porque
o esqueleto de Mozart
fez dois séculos.
Ela encheu de pó num terraço
que dava para o morro.
Eu gostava era do skate
do alcatrão
da aragem-vício
da Rua Vinicius.

17.6.11

Simão Afonso

Simão Afonso Diniz de Albuquerque
Pereira de Mello
Pamplona de Menezes
de Orleães Alvarenga e Bragança
também conhecido por Cassatta
também ele descende do primata

21.4.11

# DAFNE

O ar do anfiteatro
guarda em espetro
o seu simples sutiã
Dafne
O banco da capela
quer virar
banco de esperma
Chegada de uma qualquer
terra do interior
Essa boca é um lótus
É aragem sombra
da mais alta conífera
do Campus

13.4.11

# SUBA

Corpo que fala e ri
Corpo que voa
e desaparece

# BEIJO

Gosto de beijo porco
de beijo sujo
de beijo quadrado
de beijinho
beijão e beijaço
Gosto de beijo carente
com língua e com dente
Gosto de beijo leve
Gosto de beijo pesado
Gosto de beijo beijado

19.3.11

# PERIGEU

Na lua via sempre uma fada
de braços no ar a erguer
o legume
Depois viu a esponja
uma mulher a lavar o chão
corpulenta de joelhas
Até que viu a caveira
a caveira lunar e adolescente
a rir alarvemente

24.2.11

# ANO GÓTICO

Não sobrou champagne pra você
nem charuto ou sashimi de camarão
Tem aí farofa e feijão e um resto
de cerveja morta
Vai ser um ano apertadinho para nós
minha morta
Um ano cheio de linha
para quem não gosta de escrever
Um ano para abrir e fechar a porta
a esse outro lado do mundo
que toda a gente acaba por ter

22.2.11

# CAMELEIRA

Árvore é pau
que em língua falada
quer dizer macho
porém para mim não
Veja como
os ramos na base
em vê
de visão ou vulva
e depois a copa
maravilhosa púbis
Quem se lembrou
de dar às árvores
o atributo varonil
deve ter pouco de macho
deve ver homem
até na mulher

17.2.11

# INGRESSO

Nem sempre o amor
é de mente
um pé pode amar outro pé
sem qualquer metafísica
O amor no mundo chega
sem assento numerado
e se perde
entre todo o mundo
É bola que só pára
se romper
ou deixar de rolar
por tanta estória de princesa

16.2.11

# REPÚBLICA

Ana Pudim
Sufragista
Foi a enterrar
Em caixão duplo
Onde o neto André
Colou o brasão
Do trisavô Alfredo
Conde de Pudim

14.2.11

# BOTAFOGO

Mulher em carro preto
procura homem de bicicleta
farta do sushi e da saia retro
ele de praia e de usar cueca
o encontro vai se dar quando
a mulher do carro preto
atropelar o homem da bicicleta

10.2.11

# DARWIN

Há um bicho na biblioteca
que rói o Oscar Wilde
rói lentamente a lombada
que o bicho já sofre
com a falta de dentes
Já roeu o Herberto
A Natália e o Ruy Belo
e até ao momento
não tive ganas
de o exterminar

9.2.11

# LIBERDADE

Dê o último tiro sem pensar
o último rasgo
para arrumar a história
bem anti-buda
Escreva com a intensidade
dos anos que faltam agora
Não importa se você morre
no fim ou no meio
ninguém vai fazer
esse papel de cão
em novela improvisada
Se você é livre de dizer
então diga

# HISTÓRIA

Essas pessoas
que há dez anos
você cruzou
na praia, no shopping, no ônibus.
Essas pessoas de ócio
pessoas de negócio.
Não sei se estão vivas
se estão mortas
e isso me importa
me importa tanto
que hoje não durmo
a pensar na vida delas.

7.2.11

# BANHO

Em vez de caca
escrevo caca
que o teclado
não tem cedilha
Assim quando
Acteon foi à caca
com Diana
acho que deu merda