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17.10.13



Vendi o meu braço frio
Por uma pedra pesada
Vendi o meu cavalo vermelho por um saco-cama
Para desaparecer na estrada
Lentamente como lágrima

Encaixei tudo, toda a sede
Na mochila (é como conto a história)
Poderia pintá-la sem tela
Ou projectá-la em filme sem espectadores

Minhas milhas
Vão-me tornando leve
Como leve o coração a roer-me o peito
Uma luz que triunfa e ergue no espaço
A soma dos meus inchaços

Quero tudo de uma vez
E para isso tenho
Muitos bocados do mundo
(como vem na história)
Quero a nudez sem corpo
Quando chegar a Primavera
Põe a música mais alto e basta. Já não ouço o que queres dizer. Põe a música mais alto. À altura das tuas presas, dessa boca que dá para a água férrea de um rio sem peixes. Porque toda a beleza, toda a etérea beleza atrapalha no momento em que não te vendes por um bocado de terra, por um bocado de céu ou por um carro. Põe a música num sítio onde só os deuses a ouçam. Vem namorar para além do mar. Do cobertor quente das vozes. Põe a música tão alto que fiquemos surdos e roucos e deixa que os meus dedos e boca te percorram o corpo esguio, minha mais positiva aparição da dança, da sede.