Deram-me este cão com olhos de comboio sem ninguém e ossos encostados ao pêlo jovem modelo percorre agências e ganha um anúncio obsessivo por um cheiro. Um perfume fome. Pode ser um cão alado de olhos filósofos, pode ser um cão calado de olhos baços, o cão Pereira de olhos cognac em frente ao fogo, mas ele observa-me para saber quando falar na história e enquanto não se abre na sua boca um romance capaz de convulsionar a europa, um poema para tomar felicidade de oito em oito horas ou um verso para simplesmente dobrar o desejo no bolso, o melhor que fazemos é sair. Esquecer a prova dos cem metros livres entre quarto, sala e casa de banho. Para a praça beijo com bilhete de metro na língua, para os jardins alimentados com excremento de verdade e caroços de fruta diversa sem estética ou validade, eis que temos para oferecer a terna idade olímpica, que o desejo não morre, adormece, que é ou nunca foi lúcido o nosso silêncio e sincera, sim sentimentalmente sincera, esta nossa predisposição para esquecer ou para sonhar.
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